Com o franco crescimento dos investimentos em energias renováveis no país, a energia eólica ganha cada vez mais força e seu potencial abre oportunidade para as infraestruturas de nearshore.

São inúmeras as diferenças existentes entre o modelo nearshore, que está chegando ao país, dos modelos onshore e offshore, sejam elas de natureza técnica, de engenharia, de geração de energia, indo muito além das distinções conceituais territoriais.

Na prática, as formações geológicas das lagoas, onde se instalam as nearshore, constituem desafios bem específicos que não são encontrados no alto mar, muito menos nos solos continentais.

A título de ilustração, vale aqui compartilhar um estudo geotécnico realizado recentemente pela Geoprospec em lagoa localizada no nordeste do país.

Na ocasião, fomos contratados para avaliar as condições do leito da lagoa e possíveis variações de profundidades no mesmo, na instalação de um empreendimento na região. O estudo teve como objetivo a execução de investigações geológico-geotécnicas sob lâmina d’água para identificação da profundidade do leito, aferição da espessura da camada de sedimentos a partir da realização de sondagens em 03 segmentos lineares de aproximadamente 1.500 m cada.

Os desafios de estudos geotécnicos em lagoas se manifestam na sua caracterização, de lâmina d’água mais rasa, logo abaixo com uma camada de lama quase fluída, flutuante (neste caso era de quase 3 metros de espessura), até chegar a uma lama mais consistente e, por fim, chegar à camada de areia e o leito efetivo da lagoa.

Perfil esquemático da coluna de sedimentos no fundo da lagoa

No caso deste estudo, a acentuada camada de lama fluida e dificuldade de identificação do leito, exigiu o desenvolvimento de uma metodologia e de critérios específicos para chegar a um mapa real do leito. Foi determinado um critério técnico, em conjunto com a equipe de engenharia da empresa contratante, para se chegar a uma “camada guia” ou referencial do leito rígido, não sujeito a variações de profundidade decorrentes de sua composição, nível de água ou marés.

 

Ao longo dos segmentos foram executadas dezenas de sondagens, cuja metodologia foi adaptada em relação ao método SPT tradicional, o qual é regido pela norma técnica ABNT NBR 6484/2020. A profundidade final das sondagens variou de 5m a 25m, tendo sido perfurados mais de 450m de substrato.

Esquema da metodologia adotada

Foram confeccionadas plantas e figuras da área, mapas das profundidades do fundo consolidado e do leito rígido através de ferramentas de interpolação, além de boletins e seções geológicas a partir dos dados obtidos através das sondagens. Com essa metodologia, foi possível obter os resultados solicitados, onde ficaram bem evidentes as distintas profundidades no leito da lagoa.

Essa metodologia, ilustrada pelas imagens aqui expostas, é recomendada a outros estudos geotécnicos em lagoas, que exijam avaliação precisa da formação do leito, para projetos de engenharia aplicáveis aos empreendimentos de eólicas nearshore.